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Uma obra imortal, “O Príncipe” ensinamentos que perpassam os séculos.

  • Foto do escritor: João Victor Nunes Bernardes
    João Victor Nunes Bernardes
  • 25 de abr. de 2022
  • 11 min de leitura

LITERANDO A HISTÓRIA

RESENHA CRÍTICA

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

PRPA - Projeto Revista Problematiza Aê! ABR. 2022 Ano I Nº 012

Por JOÂO VICTOR NUNES BERNARDES [1]

Fonte: Via Amazon - Manifesto Comunista - Boitempo.
Fonte: Via Amazon - O príncipe - Martins Fontes.

A presente resenha tem a intenção de trazer uma visão geral do livro O Príncipe, apanhando algumas características gerais e importantes na leitura do texto. A obra foi publicada no ano de 1532, desde então teve várias interpretações boas ou ruins, mas que contribuíram para que essa obra seja tão famosa e o nome de Maquiavel seja conhecido por todo o mundo. No século em que foi lançado a obra de Maquiavel proporcionou uma grande revolução no pensamento moderno e no início da concepção de estado.


No início do livro Nicolau escreve sobre os domínios dos homens, que ou são colocados como repúblicas ou principados[1]. Ele apresenta também os tipos de principados, e modos de se adquirir e manter um. Os principados são classificados por ele como hereditários, novos ou mistos. Colocando que nos principados hereditários existe menos dificuldades em conservá-los e se o perder pode um dia o retomar, visto os costumes já adquiridos por seus ancestrais basta ao príncipe saber conservá-los e lidar com possíveis “acidentes” que segundo Maquiavel até um príncipe de capacidade mediana poderá se manter no poder. Dos principados novos/mistos é explicado a dificuldade em manter ele se o príncipe não for astucioso e hábil ou de alguém de grande fortuna, Maquiavel traz conselhos para quem for conquistar novos principados obtenha êxito nessa conquista. Um é ir habitar o principado adquirido, assim poderá ter maior controle de qualquer revolta ou tramas para que não lhe retirem o seu principado, ou de forma mais radical destruir eles, ou também governá-los de forma amigável os deixando viver sobre as próprias leis e com um governo de poucos. Outras maneiras que Maquiavel cita é: “Quem deseja conservar suas conquistas deve ter em mente duas precauções: uma é extinguir o sangue do antigo príncipe; outra é não alterar suas leis e impostos.” (pg. 9). Ele nos mostra exemplos de principados em que podem ser aplicados a sua ideia dos reinos recém conquistados, como o da França e o grão turco ele diz:

“Assim, quem considerar esses dois Estados encontrará dificuldade em conquistar o Estado grão-turco, porém, vencendo-o, terá grande facilidade em conservá-lo. Ao contrário, sob todos os aspectos encontrará também maior facilidade em ocupar a França, porém com grande dificuldade em mantê-la.” (pg. 18)

Nicolau fala sobre os principados novos conquistados com fortuna e virtú própria que neles há maior ou menor dificuldade em mantê-los e que isso vai depender da virtú do príncipe e do apoio de seu povo. Maquiavel aqui dá um ressalte aos príncipes que ter um maior esforço em conquistar o principado que assim terão menor dificuldade para mantê-lo diferente dos que fazer o contrário e o adquirem com menor esforço ou com esforço de outros (Armas e virtú), assim se tem um maior esforço para mantê-lo e ainda assim pode perdê-lo como nos exemplos dados por ele no livro de Francesco Sforza e Cesare Borgia. Vemos então uma valorização de Maquiavel ao esforço de início para a conservação do reinado.


O autor fala ainda sobre outras formas e modos de se tornar um príncipe sendo eles, “estes dois modos são: ou ascender ao principado por via acelerada e nefanda ou um cidadão particular tornar-se príncipe de sua pátria com o favor de seus concidadãos” (pg. 37), sem ser pela fortuna nem virtú o que ele categoriza como forma criminosa e dá um exemplo disso[2] que fica de forma bem clara os atos criminosos de Agátocles. O outro modo que Maquiavel denomina como principado civil, onde um cidadão qualquer ascende ao principado por favor de seus concidadãos, com o apoio do povo ou de um grande. O autor apresenta várias dificuldades em manter esse tipo de principado, pois se favorecer um lado poderá tornar o outro inimigo, ele aconselha a jamais ter o seu povo como inimigo pois são vários e os grandes são somente alguns, se ascender ao principado de uma forma ou de outra sempre terá medidas de manter o reino, mas precisará de uma astucia afortunada. Tem também os principados eclesiásticos onde Nicolau fala que as suas dificuldades são iguais as outras citadas dos outros principados por serem conquistados por fortuna ou por virtú, mas sem nem um nem outro se conservam por serem governados por um poder superior, o de deus, e assim, quem comanda é a igreja, a igreja então é a que comanda o principado.


Maquiavel escreve a forma que os principados e príncipes devem estar precavidos e preparados para não serem atacados e se for tem boas defesas para se defender não dependendo de aliados governando por si mesmo. Ele ainda fala sobre os fundamentos que precisam ter um principado para ter um bom governo, precisa ter boas leis e boas armas como diz ele: “Como não se pode ter boas leis onde não existe boas armas, e onde são boas as armas costumam ser boas as leis[...]”, (pg. 57). O príncipe tem que defender seu estado com armas próprias, ou mercenárias, ou auxiliares ou mistas. E somente aqueles principados que possuem armas é que fazem progresso. Dessas armas, vulgo os exércitos ele descreve sobre os tipos os: auxiliares, mistos e próprios. Dos quais ele ressalta que os melhores exércitos são os próprios e o príncipe que depende de outros tipos está sujeito a depender da sua fortuna e viver à mercê dela.


No capítulo quatorze Maquiavel traz um vínculo para o seu livro a arte da guerra, um príncipe e um bom governante deve saber a arte da guerra, essa arte permite que homens comuns ascendam ao principado e que príncipes caiam não sabendo fazê-la.

“Um príncipe sábio deve observar comportamento semelhante e jamais permanecer ocioso nos tempos de paz, e sim com engenho fazer deles um cabedal para dele se valer na adversidade, a fim de que, quando mudar a fortuna, esteja sempre pronto a lhe resistir.” (pg. 72).

Maquiavel aborda a maneira como um príncipe deve se portar perante os seus súditos e amigos, aqui tem uma crítica a outros autores que escreveram sobre o assunto, ele fala que escreveram sobre principados e repúblicas que não existiram e foram imaginarias, e isso é um dos principais motivos que separam Maquiavel dos outros autores a forma como ele descreve os estados de forma realista, da maneira de como ele realmente é, e que disso se dá origem ao adjetivo famoso derivado de seu sobrenome.


Dessa forma ele faz uma análise das qualidades que os príncipes devem ter, sejam elas boas ou ruins e mesmo que sejam, louvável o príncipe que tem somente as boas, isso é, de certa forma impossível para um ser humano, mas que um príncipe evite sempre as qualidades más, que lhe tirem o estado, assim não será de tanta importância se nem todas as suas qualidades forem boas. Seguindo a linha das qualidades de um príncipe ele traz a parcimônia[3] e a liberalidade que usados com virtú e de forma prudente pode governar o seu povo e abusar de sua liberalidade e não se preocupar com a fama que lhe for submetida porque suas ações parcimônias o inocentarão.


Maquiavel no capítulo dezessete traz a polemica da crueldade e da piedade, onde ele diz que um príncipe deve almejar ser considerado por seu povo um soberano piedoso e não cruel, mas adverte para não ser piedoso demais porque se for poderá ser cruel e tranquiliza os que são cruéis de maneira moderada com intenção de prevenir desordens no principado. Ele ainda faz uma pergunta que tem muita repercussão na época novamente voltando ao fato de que Maquiavel fala a verdade por trás do estado e não ilusões como outros autores, “É melhor ser amando que temido ou o inverso?” (pg. 80), Maquiavel fala que é melhor ser temido porque segundo ele “os homens amam segundo sua vontade e temem segundo a vontade do príncipe, deve este contar com o que é seu e não com o que é de outros, empenhando-se apenas em evitar o ódio, como dito”. Esta teoria de Maquiavel passou as eras e tem análises até os dias atuais onde diversos historiadores e pesquisadores de diversas áreas fazem a leitura dele.


Os modos que se deve um príncipe manter a palavra dada. É descrito por Maquiavel os tipos de combates que são as leis e a força. A lei ele descreve que é digno dos homens, já a força e digna dos animais, sem uma à outra não dura, onde ele usa a metáfora do leão e da raposa, o leão é a força, já a raposa é a astucia, ele tira essa metáfora da mitologia grega onde vários príncipes haviam sido criados e instruídos pelo centauro Quíron (como o caso do herói Aquiles), e um bom príncipe tem que saber usar o seu lado animal em conjunto, não somente optando pelo leão e nem somente pela raposa, dessa maneira poderá fazer um bom governo. Ao fala em manter a palavra dada Maquiavel se refere a integridade do príncipe em saber ser leal com a sua palavra, e repreende aquele que não a usa ou falta com ela, mas se for usar a palavras para enganar tem que conhecer bem esse mundo e saber usar o lado da raposa, assim mesmo que engane dificilmente perderá. Com isso em mente ele traz cinco qualidades que todos os príncipes devem ter e nunca devem pronunciar palavras sem ter umas delas faltando, porém ele diz: “Não é necessário ter de fato todas as qualidades supracitadas, mas é indispensável parecer tê-las”. (pg. 84, 85), então é necessário a um príncipe manter as aparências e mesmo que seu governo seja por trás das cenas seja totalmente diferente, algo como uma frase que lhe é atribuída de forma errada “os fins justificam os meios” (OVÍDIO, Heroides), ou manter as aparências para disfarçar o verdadeiro motivo por trás ou para se alcançar o um resultado almejado.


Um príncipe deve se precaver de se tornar odiado e desprezado em especial pelo seu povo, porque são muitos e se não tiver que temer o seu povo sobraram pouco para lidar durante o seu governo, Maquiavel também fala sobre agradar os grandes do principado, mas não se fazer se odiado pelo povo, ele cita uma exceção que é os impérios da antiguidade onde tinhas os soldados e um príncipe tinha que saber agradar mais a eles do que os outros e quando fazia isso geralmente se perdia por um lado, mas falando de repúblicas e principados o príncipe deve colocar em primeiro lugar o seu povo. Segundo Maquiavel um príncipe deve ter dois receios: um interno e outro externo, o primeiro por causa de seu povo e se esse tiver errado o outro também estará por conta das potencias estrangeiras e possíveis ataques de outros. Com isso em mente os príncipes muitas vezes fazem ações citadas por Maquiavel como inúteis e uma delas é desarmar o seu povo em vez de armá-lo e quando acontecer o primeiro o príncipe perde a confiança e lealdade de seu povo. O segundo receio que os príncipes devem ter antes de fazê-lo é a criação de fortalezas o que Maquiavel não vê má fé em se fazer, mas aconselha: “O príncipe que tiver mais medo do povo que dos estrangeiros deverá construir fortalezas, mas o que tiver mais medo de estrangeiros do que do povo deverá deixá-las de lado” (pg. 103).


Maquiavel coloca o que convém para um príncipe para que ele seja estimado. “Nada torna um príncipe tão estimado quanto realizar grandes empreendimentos e dar de si raros exemplos “. (pg. 105), Nicolau diz então que para que um príncipe seja estimado ele tem que realizar grandes feitos. Um príncipe também é estimado quando é um “amigo verdadeiro ou inimigo verdadeiro”, e declara apoiar um e se fazer inimigo sem nenhuma relutância. E ao se fazer amigo de outro príncipe, cuida-se para que ele não seja mais poderoso que você, porque isso pode lhe levar a ruína. Outro ponto tratado por ele é a administração do principado o príncipe deve mostrar-se amante da “Virtú”, desenvolvendo o principado e recompensando os que ficaram encarregados diretamente por isso, e manter o povo entretido com festejos, a velha e boa “política de pão e circo”, para que distraídos com o lazer não se preocupem com a má governança do principado.


Um bom e sábio príncipe sabe escolher bem os seus secretários e ministros da mesma forma também sabe mantê-los ao seu lado, Maquiavel fala sobre a importância disso e de como saber escolher bons ministros, dos tipos que existem e ainda aconselha que se um ministro pensar mais em si mesmo do que no príncipe ele de fato não será um bom ministro, sortudo é o príncipe que tem por seu ministro alguém que eleva a sua boa fama e que lhe é fiel. Maquiavel aconselha também o príncipe a evitar os aduladores de sua corte para que eles não o levem a queda, devem buscar conselho de homens sábios e pedir o conselho deles e saber julgar se aquilo ainda lhe cabe ou não usar. “Os bons conselhos, venham de onde vier, deve brotar da prudência do príncipe, e não a prudência do príncipe os bons conselhos”. (pg. 115).


Maquiavel ainda fala sobre os príncipes da Itália que por apontamentos feitos por ele no início do livro, principalmente pela escolha dos exércitos que levaram a vários príncipes italianos a sua queda. Ele nesse capítulo faz se parece que dedica o livro a todos os príncipes da Itália, como um conselho para eles e que se seguir as suas recomendações um príncipe novo passará por um antigo tranquilamente, mediante que um novo é muito mais cobrando que um hereditário. Maquiavel ainda descreve sobre a fortuna nas coisas humanas, algumas coisas desse mundo são governadas por fortuna e por Deus, mas Maquiavel rebate que é possível que a fortuna tenha influência, porém a forma em que um príncipe governa também tem influência, porque mesmo que algo fuja do seu controle ainda sim pode pensar em contramedidas para solucionar o acontecido, e se prevenir ainda para que não aconteça novamente. Dessa forma ele fala sobre os príncipes caídos citados no capítulo anterior que não se devem culpar somente a fortuna pelos seus fracassos.


No final do livro Maquiavel faz uma exortação, um apelo, uma suplica a Itália e aos príncipes da Itália para acender e libertá-la das mãos dos bárbaros (dos estrangeiros), que ocupa o território, e unificar ela sobre um povo só ao comando de um só príncipe. Maquiavel faz a dedicatória da obra a Lorenzo de Medici, o magnifico, colocando os seus serviços e todo o seu conhecimento a disposição dele para cair em suas graças e que assim seja tirado do exilio que estava.


Concluindo, considero o livro como uma obra eterna que ultrapassa gerações e sempre que feito a sua leitura poderá ser tirado algo de proveito e utilizado para possivelmente, realizar uma análise da sociedade atual. Colocando assim, esse livro em uma posição privilegiada nos textos ditos como imortais. A contribuição que Maquiavel traz com essa obra para a constituição do estado, para a formação provavelmente de um senso comum dos governantes e para a formação de estudiosos, entre outras gamas de áreas, de fato tornam uma obra fundamental para a formação do pensamento crítico e construção do indivíduo. Não dá para concluir sem dizer que o pensamento de Maquiavel é mal interpretado e julgado em seu tempo e lhe é atribuído um o adjetivo derivado de seu nome, designado para julgar comportamentos maus das pessoas. Não vejo Maquiavel dessa maneira, vejo ele como um homem de grande conhecimento e sabedoria de vida que ao dizer a verdade de forma direta, sincera e sucinta, foi mal interpretado pelos grandes príncipes e instituições religiosas da época. Mas como ele mesmo diz “não é necessário ter de fato todas as qualidades, mas indispensável parecer tê-las” ou algo como “não se pode agradar a todos”.

[1]Ao dizer principado o autor que trazer a ideia de impérios, reinos, cidades, vilas, entre outros governados por príncipes.

[2]Observamos aqui claramente uma contribuição direta onde mostra o porquê Maquiavel é reconhecido como um dos formadores do estado moderno.

[3]Parcimônia é a ação ou ato de fazer economia, de poupar.

COMO CITAR


BERNARDES, João Victor Nunes . Uma obra imortal, “O Príncipe” ensinamentos que perpassam os séculos. Literando - Projeto Revista Problematiza Aê!, ed. 012, v. 01, abr. 2022. Disponível em <https://revistaproblematiza.wixsite.com/inicio/lt001>.

REFERÊNCIAS


GONÇALVES, Eugênio Mattioli. Princípios da Razão de Estado em O Príncipe, de Nicolau Maquiavel. Filogenese. Marília, v. 3, n. 1, p. 7-14, 2010.


MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.


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