AS FERIDAS DA ESCRAVIDÃO AINDA SILENCIAM CORPOS E VOZES
- Natália Alves de Almeida
- 24 de nov. de 2021
- 3 min de leitura
LITERANDO A HISTÓRIA
PRPA - Projeto Revista Problematiza Aê! NOV. 2021 Ano I Nº 010
Por NATÁLIA ALVES DE ALMEIDA[1]
[1] Lattes
DADOS EDUCACIONAIS
FONTE: Retrato Escrava Anastácia (pintado pelo Francês Jacques Arago)
CONCEITOS: Escravidão; Esquecimento; Marginalização; Narrativa; Silenciamento.
SÉRIE(S)/ANO(S): 6ª a 9ª e 1° a 3° Médio.
ENSINO BÁSICO – 6ª a 9ª
UNIDADE(S) TEMÁTICA(S): O Brasil no século XIX
OBJETO(S) DE CONHECIMENTO: O escravismo no Brasil do século XIX: plantations e revoltas de escravizados, abolicionismo e políticas migratórias no Brasil Imperial: Política de reparação: as ações afirmativas; Democracia racial e a exclusão social
HABILIDADE(S): (GO-EF08HI19-A); (GO-EF08HI19-B); (GO-EF08HI20-A)
ENSINO MÉDIO – 1ª a 3ª
COMPETÊNCIA(S): ESPECÍFICA 5
HABILIDADE(S): (EM13CHS503)
A escravidão durou quase 400 anos. É uma história de dor. É uma história de violência, marginalização. As versões que se conta sobre a história da escravidão, muitas vezes, não aponta a resistência da população negra para com as violências geradas pelo sistema escravista, convenientemente, não se mostra, não se ensina, a resistência e as lutas. Aquelxs que foram tirados de seus lares, de suas famílias, suas tradições, crenças e culturas. A escravidão criou retratos sobre a população negra, retratos enganosos, imaginários preconceituosos, marginalização e violência.
A escravidão e o colonialismo silenciaram corpos, vozes, cosmologias, tradições, epistemologias tidas como se não fossem validas pelo projeto ocidental de modernidade. Luiz Rufino diz em seu livro “Pedagogias das Encruzilhadas: “O projeto colonial compreende-se como um projeto de mortandade, calçado na produção do desvio existencial e da aniquilação de saberes”. (RUFINO, 2019, p. 68). Foi um estado de pura violência, tanto a escravidão quanto o colonialismo criaram que há corpos e saberes não dignos de existência, dignidade, humanidade. É preciso tirar do esquecimento a resistência daquelxs que vieram antes de nós e foram resistentes à um sistema que os classificou como seres marginalizados. A personagem que será referenciada aqui será a Anastácia.
Não possuindo história oficial sobre Anastácia. Existem várias narrativas sobre a história da escrava Anastácia, algumas dizem que ela nasceu na Angola, vinda de uma família real, outras dizem que ela nasceu Bahia. Em seu retrato, vemos que ela usava um colar de ferro muito pesado e uma máscara que a impedia de falar, os motivos para tal castigo variam, alguns dizem que foi por causa do seu ativismo político, outros que ela resistiu as investidas sexuais de seu senhor. Anastácia era, inclusive, considerada como santa entre os escravizados. A máscara possui uma simbologia poderosa do que o colonialismo e a escravidão fizeram com corpos e saberes não-ocidentais, Grada Kilomba, em seu livro “Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano diz: “Nesse sentido, a máscara representa o colonialismo como um todo. Ela simboliza políticas sádicas de conquista e dominação e seus regimes brutais de silenciamento das/os chamadas/os “Outras/os”: Quem pode falar? O que acontece quando falamos? E sobre o que podemos falar?”. (KILOMBA, 2019, p. 33).
A partir da imagem de Anastácia e do silenciamento que lhe foi imposto, façamos os seguintes questionamentos: O que aconteceria se essas vozes, corpos e saberes silenciados falassem? O que eles são capazes de nos contar? Que estruturas de silenciamento e opressão eles são capazes de quebrar? A quem interessa o silenciamento e o esquecimento para com os “Outros/as” dos quais nos fala Grada Kilomba?
Por fim, digo que é necessário que se quebre o silenciamento imposto aquelxs tantos outros que lutaram contra o sistema escravista e suas opressões.
DICAS
SAIBA MAIS
Torto Arado – Itamar Viera Júnior
Olhos d’ água – Conceição Evaristo
Perspectivas do Ensino de História Decolonial - Disponível em:
COMO CITAR
ALMEIDA, Natália Alves de. As Feridas Da Escravidão Ainda Silenciam Corpos E Vozes. Literando - Projeto Revista Problematiza Aê!, ed. 010, v. 01, nov. 2021. Disponível em <https://revistaproblematiza.wixsite.com/inicio/lt001>.
REFERÊNCIAS
KILOMBA, Grada. Memórias de Plantação: Episódios do racismo cotidiano. Trad.Jess Oliveira Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
RUFINO, Luiz. Pedagogia das Encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2019.
* Agradecimentos: Agradeço ao Grupo de Pesquisa em Pluriepistemologias no Ensino de História do qual participo, as discussões que temos em nossos encontros me fizeram pensar nessa problematização que aqui presento, nossas leituras e conversam me fizeram e crescer como futura professora.
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